Virei contadora de histórias

Contando histórias para crianças

Quando criança, adorava ler e ouvir histórias. Hoje, como avó, leio histórias em voz alta para os meus netos. Nestas ocasiões, tenho sempre seguido um processo instintivo, pelo qual vou descobrindo a história junto com a criança. Num contato face a face, a criança pode interromper o leitor, fazer perguntas e comentar o texto que ouve, assim como examinar de perto as ilustrações. A criança desenvolve a sua própria interpretação.

Contar histórias, é um excelente recurso para reforçar o vínculo afetivo entre o adulto e a criança. O educador italiano Gianni Rodari diz que a criança está mais interessada em examinar a face do adulto e os trejeitos que este recorre para contar uma história do que no conteúdo da história própriamente dita. Uma das razões, segundo ele, pela qual a criança quer ouvir várias vêzes as mesmas histórias.

A leitura de histórias em eventos públicos

Desde a publicação de “O Mistério da Mesa Arranhada”, meu primeiro livro infantil, em 2010, passei a contar minhas histórias em escolas, bibliotecas, livrarias e eventos. Em estas ocasiões, tenho observado que uma série de fatores podem dificultar a sessão e o contador terá de se adaptar a diferentes cenários e de usar sua criatividade para lidar com imprevistos. Num primeiro momento, pode parecer assustador enfrentar uma sala cheia de crianças. Entretanto posso tranquilizar o contador iniciante de que as crianças quase sempre constituem um público acolhedor e entusiasmado.

Formação do contador de histórias

Não passei por uma aprendizagem formal para contar histórias em público. Aprendi com a experiência. De início, percebi que teria de adaptar meu modo de apresentação (acadêmico) ao público infantil. Comecei por observar a atuação das contadoras de histórias; a seguir, recorri a duas pessoas de teatro que me prepararam, por meio de sucessivos ensaios (Zadoque Lopes e Elília Reis).

Mesmo na minha posição de autora, percebi que como contadora de histórias tenho de preparar o livro com cuidado. Para cada segmento da história, em conjunto com os atores, identifiquei os momentos que deveriam ser enfatizados e examinei os recursos que poderiam ser utilizados para envolver as crianças. Durante os ensaios, os atores observaram o meu desempenho e apontaram sugestões com respeito à postura corporal e à entonação da voz. Entretanto, o que mais enfatizaram foi a necessidade de desenvolver um contato afetivo com o público, bem como de ouvir e de responder os comentários das crianças.

Experiência em contar histórias

Com base nestas instruções, aos poucos, fui desenvolvendo meu próprio jeito de contar histórias em público. Até agora, contei histórias em mais de cincoenta eventos. Sempro utilizo o livro e me mantenho fiel à história. Utilizo o livro para divertir e para educar as crianças. Mas tenho investido muito no aspecto afetivo da contação de histórias e observo que,  pouco a pouco, estou aprendendo a me aproximar das crianças, independentemente do tamanho da audiência.