Formação do escritor

Academia e literatura

Na juventude, eu lia muitas obras de ficção. Mais tarde, ao trabalhar na universidade, tive de me concentrar em atividades de ensino, de orientação de alunos e de produção de textos acadêmicos. Já não me sobrava tempo para ler por prazer. Mas queria escrever outros tipos de textos. Naquela época, eu pensava que seria quase impossível fazer a transição entre a redação acadêmica e a literária.

Oficina de redação criativa

Para escrever, não basta estar motivado. O escritor iniciante precisa aprender as técnicas de narração. Assim, em 1995 – último ano que trabalhei na universidade – frequentei a oficina de contos do escritor gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, com duração de um ano, na PUC, em Porto Alegre. Lá, estudei várias formas de narrar, de criar diálogos, de descrever situações, de estabelecer o ponto de vista do autor no texto, assim como de muitas outras técnicas. No curso fui capaz de produzir pequenos contos.

Entretanto, meu projeto criativo foi interrompido quando passei a residir em Londres em 1996. Lá continuei frequentando cursos de narração literária, mas as dificuldades de narrar em língua inglesa me desanimaram.

Importância da leitura

A mudança para Londres e o domínio da língua inglesa me possibilitaram o acesso a uma fonte inesgotável de literatura. No início, vagava pelas livrarias, abismada com a quantidade de livros que são lançados mensalmente. Como eu poderia reconhecer a boa literatura? Com o tempo, passei a ler regularmente os cadernos literários do Guardian, assinei a Writing Magazine (uma revista especializada sobre a redação de obras de ficção e de não-ficção), comecei a assistir documentários sobre escritores na TV e a ler compulsivamente romances, contos, crônicas e livros infantis, sempre procurando entender a variedade de formas em que os livros são escritos e estruturados.

Motivação do escritor

Meu interesse na literatura infantil surgiu com o nascimento do primeiro neto, Julian, em 2001. Então, comecei a adquirir livros ingleses para contar-lhe histórias, improvisando traduções do inglês para o português. Penso que este exercício em parte me habilitou a escrever meu primeiro livro infantil. Mas eu não me sentia segura para escrever livros infantis.

A oportunidade de aprender sobre a criação de obras infantis surgiu quando frequentei um curso de redação de um ano de duração, especifico neste campo,  com a escritora Elizabeth Hawkins. Neste, revi as técnicas de narração e tive a chance de examinar uma grande quantidade de livros infanto-juvenis ingleses. Passei a observar como este mercado é segmentado não só por faixa etária e sexo, como também por gênero literário (fantasia, romance histórico, histórias de terror, entre outros). Além disso, as diferenças entre o mercado educacional e o mercado literário foram esclarecidas durante o curso. Este foi desenvolvido em módulos e eu me concentrei naquele que tratava dos picture books. Foi muito interessante examinar como os livros são ilustrados e de que forma se pode combinar o texto com as imagens.

Minha primeira história surgiu neste curso de redação infantil. Esta foi escrita em inglês e intitulada “The mystery of the scratched table”. Depois, eu a traduzi para o português, com o título “O mistério da mesa arranhada” e a transformei num poema. A obra teve uma publicação independente em 2010 e minha primeira ação para divulgá-la foi contar esta história na escola onde estudei – o Colégio Americano, hoje IMEC – Colégio Metodista Americano, em Porto Alegre. O livro foi, no ano seguinte, reeditado pela Editora Mediação de Porto Alegre. A obra foi selecionada para o Programa Sala de Leitura do governo do Estado de São Paulo em 2014.

Com o nascimento dos outros netos, publiquei mais duas obras e outras estão por vir. Embora a minha motivação inicial tenha sido escrever para os netos, não pretendo parar por aí. O entusiasmo e afeto manifestado pelas crianças em sala de aula ao ouvirem as minhas histórias tem sido um grande incentivo para que eu continue a escrever.