Itamaraty apoia leitura de história

No dia 22 de abril de 2013, graças ao apoio da ABRIR e do Itamaraty, contei em português a história de “O mistério da mesa arranhada” para 60 crianças do 5º ano da Dallas Road Primary School em, Lancaster, Inglaterra. O convite partiu de Sue Tyson Ward, que iniciou o Clube de Português da Escola. Ela fez a interpretação consecutiva da história para o inglês.

O clube de português da Escola

Sue Tyson-Ward é uma linguista britânica especializada na língua portuguesa. Escreve gramáticas de português para estrangeiros, ensina português e participa da avaliação dos exames de língua portuguesa em Cambridge. Ela conta que durante a sua formação em língua portuguesa e espanhola em Oxford, na Inglaterra, morou por um ano em Campinas, no Brasil. Esta experiência, segundo ela, influenciou sua carreira e sua vida, pois tem uma grande estima pela língua portuguesa. Ela visita Portugal com frequência e sua filha de dez anos de idade já está aprendendo o idioma. Em 2010, ela fundou o clube do português na Dallas Primary School, o qual é aberto aos alunos que queiram aprender não só o idioma mas, também, algo sobre as pessoas e os países onde o português é a principal língua falada.

Sobre o processo criativo

Sue enfatizou que a visita de escritores na escola é muito bem-vinda, pois os alunos do nível 5 estariam interessados em ouvir sobre o processo criativo e sobre a produção de obras literárias, uma vez que vêm tratando destes temas em aulas sobre leitura crítica. Por isso, após escutarem a história, várias crianças quiseram se manifestar e suas perguntas – que provavelmente foram preparadas com antecedência – giraram em torno das seguintes questões: “Onde você encontra inspiração para escrever?” “Por que escreve livros?” “Que tipo de livros você gosta de escrever? “Com que frequência escreve livros?”, “Quantos livros já escreveu?”,”Quantas cópias já vendeu? Pude observar que suas questões são semelhantes àquelas que os adultos costumam formular aos escritores, por ocasião da leitura de suas obras.

O envolvimento da plateia

Durante o evento, interrompi a contação da história, em alguns momentos, para perguntar a opinião dos ouvintes sobre quem estaria arranhando a mesa da mãe. Os suspeitos foram sendo, aos poucos, eliminados, reafirmando o que aparece na história, de que o jacaré não poderia ter sido, porque vive no rio, de que a onça tampouco, porque vive na floresta, etc. Após ter sido revelado o culpado, passamos a debater as razões para o crime. Um menino imediatamente acertou, mas este fato não impediu as outras crianças de buscarem razões alternativas, sendo a mais engraçada, àquela apresentada por uma menina que declarou enfaticamente que o pássaro era na verdade uma fêmea, que estava grávida, e que por isso estaria comendo a mesa.
A solução do problema foi a seguir debatida pelas crianças. Alguns queriam manter o pássaro (no seu papel de animal de estimação) e sugeriram trazer pedaços de madeira para prevenir que ele continuasse a arranhar os móveis. Outros sugeriram libertar o pássaro, enquanto outros contra-argumentaram que se solto, o pássaro poderia ser alvejado ou capturado. Então, eu perguntei: libertar ou manter o pássaro em casa? Para este dilema, apareceu uma solução conciliatória: soltar o pássaro, mas deixar a janela aberta para que ele possa voltar, se quiser. Enfim, as crianças gostaram muito de serem envolvidas.

Sobre a leitura de histórias em formato bilíngue

Durante a sessão de perguntas e respostas, uma das crianças indagou se eu estava apreensiva em contar a história num idioma que a platéia não compreende. Respondi que sim, e aproveitei para perguntar se tinham gostado de assistir a contação bilíngue. Todos responderam positivamente, Na verdade, eu observei que ao iniciar a contação em português, as crianças a princípio se ficaram surpresas e algumas mostraram sinais de impaciência. Entretanto, à medida que ouviram a versão em inglês e que entenderam o conteúdo da história, chegou-se a um momento em que as crianças passaram a apreciar também os sons da língua portuguesa. Este é um processo que identifiquei em outras experiências de contação de histórias de forma bilíngue. É possível que esta técnica – assim como qualquer outra que associe um momento lúdico a um idioma desconhecido – venha a desenvolver a curiosidade e, talvez, a simpatia da plateia com o novo idioma.

Um convite interessante

A lembrança que tenho de lecionar ou de assistir aulas com adultos na universidade é de os alunos sentarem no fundo da sala, o quanto mais longe do palestrante, melhor. Pois, agora, tenho a felicidade de contar histórias para as crianças e constato um comportamento oposto. Os alunos se instalam muito próximas de mim. De fato, quanto mais perto de mim, melhor. Neste evento na Dallas Primary School, eu mal podia me movimentar. E, ainda, tive uma surpresa interessante no final quando a professora sugeriu a possibilidade de um link entre a sua turma e uma escola no Brasil. Alguém se interessa?