Celebração internacional em Newham - um evento multilíngue

Um evento multilíngue

Desde 2010, quando publiquei meu primeiro livro infantil, venho contando histórias para crianças em eventos públicos. Percebo cada novo evento como um desafio. Assim, em 14 de junho de 2014, aceitei com prazer o convite de Olga Barradas para participar de uma celebração internacional das diversas línguas e culturas faladas no bairro de Newham da cidade de Londres.

Em Newham, o português é a língua mais falada, depois do inglês. O grupo falante de português inclui residentes angolanos, brasileiros e portugueses. O bairro acolhe também pessoas falantes de bengali, francês, lituano, romeno, espanhol e Urdu.

Esta celebração internacional, em caráter de projeto piloto, foi promovida por Martin Pinder, secretário honorário da Newham Partnership for Complementary Education tendo como público-alvo os alunos da Royal Docks Community School, que sediou o evento. Logo, o convite foi estendido ao público em geral. Para o programa de português, do qual fui uma das apresentadoras, houve uma ampla divulgação na mídia brasileira, portuguesa e angolana, sediada em Londres. As principais atividades foram leituras de histórias, de poesias, bem como apresentações de músicas e de danças representativas de cada uma dessas culturas.

Neste evento, esperava-se a presença de centenas de pessoas, inclusive falantes de outras línguas. Por essa razão, escolhi apresentar a história do meu livro mais recente, intitulado “O segredo de Francisco”, que também se encontra em versão inglesa sob o título de “Frank’s Secret”. Eu já contei esta história algumas vêzes em escolas primárias no Brasil, assim como em clubes de português em Londres, e a recepção das crianças tem sido muito positiva. No entanto, esta seria a primeira vez que iria contar o livro de forma bilíngue e tinha dúvidas sobre que resultados esperar. Decidi que cada página do livro seria lida por mim em português, seguida da leitura da página paralela, em inglês, por Daniel Robins (aluno do King’s College, Londres) que gentilmente aceitou colaborar neste evento.

Ao entrar na sala, tivemos a surpresa de constatar que a audiência era formada exclusivamente por residentes angolanos – um público que eu desconhecia. Então, eu me questionei se a linguagem seria apropriada ou se diferenças culturais viriam atrapalhar a compreensão da história. Felizmente os angolanos demonstraram apreciar a história tanto quanto o público brasileiro e português. Ficou evidente o entusiasmo dos pais ao ouvirem a contação em português, ao acompanharem os sons que aparecem no texto, ao responderem as minhas perguntas, ao adivinharem o significado das palavras espelhadas do texto. Enquanto as crianças… Bem, elas reagiam melhor após ouvirem também a versão inglesa, lida por Daniel.

Então, se a minha intenção inicial era usar a contação bilíngue para incluir na audiência as crianças não falantes de português, eu saí deste evento com a certeza de que a contação bilíngue é essencial para sustentar uma boa compreensão da história pelas próprias crianças cuja língua mãe é o português. Mais uma comprovação de que nas comunidades migrantes, as crianças necessitam ainda mais de oportunidades para desenvolver a fluência da língua materna através de contação de histórias.