Contando histórias para os pequeninos

Todos gostaríamos de saber o que as crianças pequenas aproveitam dos livros.

Elas compreendem mais do que a gente pensa, diria eu, depois de muito contar histórias aos pequeninos. Desta vez, baseio-me numa experiência de contar a história “Vi um bicho genial lá no fundo do quintal” para um grupo de oito crianças de dois a quatro anos de idade na Escolinha Curumim, no bairro de Peckham em Londres, em 3 de dezembro de 2016. Na obra, Luisa, a protagonista, atendendo ao pedido da professora de fazer um tema de casa sobre a história de um animal, surpreende a todos ao escolher narrar as aventuras de uma minhoca (a qual batizou de Anne Lidia), em lugar de animais convencionais como cavalo, cachorro, peixe ou coelho.

Comecei a leitura, mostrando às crianças as capas do livro e, então, passei a contar-lhes a história, à medida que mostrava as imagens de cada página. Também fazia perguntas sobre o que viam. Foi uma experiência singular: as crianças ficaram quase todo o tempo de pé, coladas em mim. Eu dizia: – Assim não posso ler a história! Vocês querem que eu continue? Que bicho é esse? Onde está o urso polar? E a mosca varejeira? – Elas respondiam ao apontar as imagens e tentar, naturalmente, arrancar o livro da minha mão.

Então, recitei-lhes a adivinha que Luisa, a protagonista da história, criou para desafiar os coleguinhas a descobrirem que bicho ela havia escolhido:

“Não tem patas, não tem penas,

não tem asas, nem antenas.

Rola para frente e pra trás,

nenhum barulho ela faz.”

Em seguida, coloquei fantoches nos dedos das crianças, representando insetos do jardim. Meu propósito era testar com eles se o bicho escolhido por Luisa era um besouro, uma borboleta… Mas foi uma tarefa impossível, pois neste momento as crianças enlouqueceram de felicidade. Passaram a correr abanando as mãozinhas pelo recinto. É lógico que só pude voltar a ler a história depois de recolher os fantoches.

Continuei mostrando-lhes o livro, novamente lendo umas poucas rimas:

Anne Lidia vai e vem,

medo do escuro não tem.

É um bichinho fura-terra,

fura terra-papa-terra…

Mas elas queriam, antes de tudo, ver as ilustrações. O passarinho pegou a minhoca! – disse uma. Esse peixe é um tubarão? – perguntou outra. – As pessoas estão tirando as minhocas da terra … – apontou outra.

– É verdade. O que será que  vai acontecer com as minhocas? – perguntei. Mas ninguém se interessou. Então, resolvi responder eu mesma à minha pergunta.  Virei a página seguinte e mostrei a minhoca revirando-se num canteiro de lixo orgânico. –  Sabiam que a minhoca come lixo? Que o cocô da minhoca vira adubo para as plantas? Hum! Será que entenderam a história? – eu me indaguei.

– Então, a minhoca é boa pra gente! – concluiu um menininho.

Uau! Este menininho salvou a pátria – suspirei aliviada.

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