Peckham Library

Em 6 de junho de 2012, na biblioteca de Peckham no bairro de Southwark, Londres, contei a minha história “Vi um bicho genial lá no fundo do quintal”. O evento foi uma promoção conjunta da biblioteca e da Associação Brasileira de Iniciativas Educacionais no Reino Unido (ABRIR), dentro do seu Projeto Biblioteca. Este projeto, além da promoção de eventos culturais, inclui o repasse de livros infantis brasileiros, provenientes de uma doação do MEC, para as bibliotecas parceiras situadas em Londres.

Durante a preparação do evento, as bibliotecárias Eugenia Atta e sua assistente Cristina Hortas Veigas sugeriram que eu contasse a história também em inglês sob o argumento de que apenas assim se poderia assegurar a participação de crianças de várias nacionalidades que frequentam a biblioteca. Para tanto, dois voluntários ingleses e eu, juntos, traduzimos a história e ensaiamos contá-la em duas línguas, de forma consecutiva.  Nesta ocasião, Maggie Smith leu a versão inglesa e  Phil Byrne fez o acompanhamento musical. Esta foi a primeira vez que nos apresentamos juntos.

A contação ocorreu numa sala de eventos, separada do resto da biblioteca, o que foi muito agradável para todos. A participação de Eugenia e de Cristina foram vitais para a organização do evento e para a motivação do público presente. Wanderley Moreira, também voluntário da ABRIR, tirou fotos do evento e colaborou na avaliação da audiência. As crianças, embora atônitas ao ouvirem palavras em português, acabaram se acostumando com o formato bilíngue.  Surgiram aí algumas questões interessantes no final da contação: Um menino africano indagou: “Por que você não escreveu um livro na minha língua (Yoruba)?” Outra criança, também africana, lamentavelmente, expressou: “A língua do meu País é horrível. Eu a detesto.”

As crianças se envolveram com a história, gostaram de manipular os fantoches,  formularam perguntas e ofereceram comentários no final.  Alguns deles foram:  “Eu dou para este livro nota 5/5, porque é engraçado, fantástico, espetacular.”  “Eu adorei este livro.” “Eu amei esta história.”  Perguntas originais foram: “Como pôde uma menina pequena como a Luisa (protagonista) escrever uma história tão comprida?” “Se a minhoca come tanto, como é que não engorda?” A bibliotecária Eugênia declarou-se surpresa ao ver as crianças tão envolvidas com o evento. Disse que o normal é algumas deixarem a sala para irem brincar no computador.  Ao final, quando mostrei fotos de Luisa (a protagonista da história) e expliquei que Luisa é uma menina de verdade, as crianças ficaram maravilhadas com esta descoberta, bem como com o fato de eu ter escrito o livro para a minha neta.

A avaliação dos pais foi positiva. Em suas palavras: “Eu acho que esta história é muito envolvente e que ensina para as crianças uma lição extremamente importante na vida.” A contação bilíngue surpreendeu os pais. Em suas palavras: “Gostamos muito de ouvir uma história em português, com tradução em inglês. A interação com as crianças foi ótima, assim como também a música.” “Excelente ideia. Talvez devam contatar as contatar as escolas onde as crianças falam a linguagem-alvo.” “Seria muito interessante ver mais línguas diferentes em nossa biblioteca, pois assim as nossas crianças estariam mais atentas a outras culturas.”

Entretanto, houveram críticas e sugestões com respeito a uma melhor integração entre os artistas, para não quebrar o fluxo da narrativa e também para melhorar o entendimento da história. Na avaliação em grupo que ocorreu no final da contação, as seguintes sugestões foram apresentadas: Que eu lesse a história em ambas as línguas ou que Maggie e eu nos colocássemos de pé, uma de cada lado do livro. Que houvesse maior presença de música na história. Estas sugestões foram aproveitadas no dia seguinte, quando se repetiu tal evento na biblioteca de Archway, do bairro de Islington.